quinta-feira, 14 de maio de 2015

AUSÊNCIA - DRUMMOND

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

METAMORFOSE

E foram aqueles olhos famintos de vida
Que me fitaram com pedido de socorro.
Balbucios de "não me deixe morrer".
Foram as noites em claro,
As tentativas frustradas de aliviar a dor
Com suas mãos entre as minhas.
Foram as chegadas, as despedidas,
Foram os poucos dias que passei ao seu lado.
Foi seu desejo de viver
Que me impediu de querer morrer.
Foram os olhos, as poucas palavras,
o corpo franzino, tão pequeno que caberia no meu colo.
Foi sua dor que me mostrou 
as tantas dores maiores do que a nossa...
Assim reaprendo a viver.