sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

ESSA NÃO SERIA MINHA ÚLTIMA CRÔNICA


Nada naquele dia me doeu tão profundamente quanto a insensibilidade do meu nobre aluno.
Jamais esperara um dia ouvir alguém ao alcance dos meus conselhos, dos domínios talvez, dizer que seria ótimo que os prisioneiros se dessem mal, que morressem, que....
Com palavras de baixo calão, aquele jovem tão próximo a mim proferiu impropérios absurdos, inferiorizando e desejando o mal daqueles que “meditam” atrás das grades.
Talvez o que me assustara tão abruptamente não tenha sido o palavreado chulo vomitado pelo rapaz, mas a insensibilidade com que ele tratara um igual, um ser humano. É certo que não podemos esperar solidariedade das pessoas diante da escória, dos ratos de esgoto da sociedade que, para não federem perto de “gente boa”, é excluído e enjaulado para pagar por seus crimes, alguns irrisórios. Dói mais ainda porque esse próximo que se deseja ver longe é, em sua maioria, pobre, negro e filho de uma discriminação oriunda de um primitivismo selvagem.
Da “gente boa” que eu e meu aluno subjugamos fazer parte, incluem-se também todos os parlamentares, com a constituição ao sovaco, com ares de civilização, de nobreza. Esses não fedem, porque são brancos. Porque estão ricos. Porque usam ternos encomendados em caros estilistas.
Ternos não cabem atrás das grades. Atrás das grades cabemos pobres como eu, como a grande massa transeunte que batalha todo dia e, quem sabe, por uma infelicidade do destino, meu aluno.