domingo, 31 de agosto de 2014

SARGAÇOS SOMOS

“Tudo o que faço ou medito 
Fica sempre na metade. 
Querendo, quero o infinito. 
Fazendo, nada é verdade. 

Que nojo de mim me fica 

Ao olhar para o que faço! 
Minha alma é lúcida e rica, 
E eu sou um mar de sargaço – 

Um mar onde boiam lentos 

Fragmentos de um mar de 
além... 
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem”. 

Fernando Pessoa

Acostumemo-nos, pois, ao mar de sargaço que somos
De desejos incessantes
E pensamentos inconfessáveis.



DEPOIS...

Eis que temos nos preocupado tanto em preservar nosso lugar para depois da morte, que nos esquecemos de viver na terra. Olhamos demasiadamente para o eterno e deixamos passar por nós as oportunidades de sermos simplesmente humanos na terra. Esquecemo-nos da vida tão perene. Hoje cá, amanhã, outro dia, quem saberá? E que garantias há sobre o depois? Necessário se faz disseminar o bem, sem esperar por retribuições divinas. "Estamos sós e sem desculpas." 

"Não deixeis a vossa virtude fugir das coisas terrestres e adejar contra paredes eternas. Ai! Tem havido sempre tanta virtude extraviada! 
Restituí, como eu, à terra a virtude extraviada. Sim; restitua-a ao corpo e à vida, para que dê à terra o seu sentido, um sentido humano." Assim Falava Zaratustra



quarta-feira, 20 de agosto de 2014

DE AMOR E DE ANJOS

"Todos os dias quando acordo, vou correndo tirar a poeira da palavra amor." Clarice Lispector
Se Clarice e Macabéa acreditavam em anjos e no amor, quem sou eu para dizer que não existem??? E que tomem conta do mundo. Amém!!!

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

ARTE

" [...] eis que a mente é uma caixa ilimitada, a não ser por nossas estruturas internas, que a arte serve justamente para romper."  Sérgio Sant'anna (Um Crime Delicado)
Foto: Pigmaleão e Galateia - Jean Léon Gérôme

A SOCIEDADE DO CONSUMO

" [...] O grande problema é que, sendo mercadoria, o consumidor consome a si mesmo, sua vida, seu cotidiano. 'Consome-se' trabalhando para poder consumir o que o mercado apresenta e acaba por esquecer que ele é mercadoria primeira desse sistema. Portanto, nossa sociedade é insustentável, pois é contraditória, destrói a si mesma, gerando indivíduos frustrados, viciados em shoppings, doentes por consumir.[...] "Matêus Ramos Cardoso (Revista Filosofia)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

SOBRE-HUMANO

"[...] pode-se fazer a guerra neste mundo, macaquear o amor, torturar o semelhante, frequentar as colunas dos jornais ou simplesmente falar mal do vizinho enquanto se tricota. Mas, em certos casos, continuar, apenas continuar, eis o que é sobre-humano. " Albert Camus (A QUEDA)

terça-feira, 12 de agosto de 2014

INCONSTÂNCIA

É por ser tão instável que devo desconfiar de mim todos os dias. O que ontem me parecia tão certo como os rios que deságuam no mar, apesar dos obstáculos que encontram, torna-se tão duvidoso quanto a hora última de vida.
A inconstância fere. "[...] Para ser feliz, é preciso não se envolver demais com os outros." Mas como não se envolver? Que "venenos de Deus ou remédios do Diabo" encontraríamos na caminhada para nos livrarmos desse mal? O mal de não pertencer a si mesmo...


A QUEDA DA MÁSCARA

“[...] Mas sabe por que somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há obrigações. Deixam-nos livres, podemos dispor do nosso tempo, encaixar a homenagem entre o coquetel e uma doce amante: em resumo, nas horas vagas. Se nos impusessem algo, seria a memória, e nós temos a memória curta. [...]” Albert Camus (A QUEDA)

sábado, 9 de agosto de 2014

... E HÁ TANTAS COISAS QUE REALMENTE NÃO ME INTERESSAM...

"De qualquer forma, eu talvez não estivesse certo do que realmente me interessava, mas estava totalmente certo do que não me interessava." Albert Camus (O ESTRANGEIRO)
... E há tantas coisas que realmente não me interessam, mas algumas pessoas não desconfiam de que não me importo se elas acreditam ou não em algo. Eu não acredito e não me interessam as crenças alheias. Para relembrar "Engenheiros": "Eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem...".

ESTAMOS TODOS CONDENADOS À MORTE...

"[...] Quando acabou, dirigiu-se a mim, tratando-me de 'meu amigo': se me falava desta forma, não era por eu estar condenado à morte; na sua opinião, todos nós estávamos condenados à morte. [...]." Albert Camus (Livro: O ESTRANGEIRO)
E NÃO ESTAMOS DE FATO, COMO SUGERIU O CAPELÃO?

POR QUE ESCREVER...

"[...] A poeta portuguesa Sophia de Mello Brayner contava histórias para que seus filhos doentes adormecessem. Escrevo para adormecer o mundo que me parece doente. E assim invento histórias." Mia Couto (Em entrevista)

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

RAKUSHISHA

"Deve haver como me perder, de algum modo. Deve haver como me perder para encontrar aquele lugar no mundo que nunca antes foi pisado antes, um território realmente virgem. Deve haver um modo, quem sabe, de partir em viagem e não regressar mais. Reduzir-se à mochila que vai às costas e a umas poucas mudas de roupa. Reduzir-se ou agigantar-se, a uma ausência de casa própria e cidadania, [...]. Levantar os pés para caminhar, estudar a bússola e o mapa, mas randomizar todos os gestos. Traçar uma reta, menor caminho entre dois pontos, e picotá-la com a tesoura, apagar trechos com a borracha, dissimular outros com o esfuminho, despistá-la em curvas. De tal modo a esquecer que um dia chegou a ser uma reta, dotada de ponto final. De objetivo. Desobjetivar-se. Esse, o território realmente virgem - o único. Assumir como um sentido a falta de sentido da vida. Em todos os sentidos. . ADRIANA LISBOA (RAKUSHISHA)