segunda-feira, 17 de agosto de 2015

CAPA HUMANA

“O tempo trouxe-nos a sabedoria da incredulidade e do cinismo [...], e desconfiamos tanto da humanidade como de nós mesmos, por conhecermos o egoísmo azedo do nosso caráter sob as enganadoras aparências de um verniz generoso.”
António Lobo Antunes (Romance Os cus de Judas)

domingo, 2 de agosto de 2015

PRATA

Ontem namorei a lua de novo.
Imensa e luminosa
Navegou pelo céu
Sob meu olhar atento
Por horas.

Horas vazias
Cinzas horas.
Pelas horas minhas 
e pela prata dela.

Horas que anunciam
A música da vida. 
Breve vida!


OBSTÁCULOS

Eu havia lido uma frase em um romance contemporâneo de Cristovão Tezza: "A vida é uma corrida de obstáculos." Pensei na possível ambiguidade que não há. Seria uma corrida com obstáculos, daquelas que as pessoas os pulam para chegarem à linha de chegada, ou seria uma corrida na qual se carregam os obstáculos e os vão pondo diante de cada passo dado? Talvez seja essa última a verdadeira interpretação para a frase. Nós, pequenos seres mortais, somos peritos na arte de fazer da nossa vida um problema nem sempre tão complexo quanto aparenta. Muitas vezes passaríamos sem eles, ou os resolveríamos  com um simples "não". Será que gostamos de viver criando obstáculos? Seríamos todos, além de vis seres, masoquistas? 

CAUSA E CULPA

"Há uma causa e uma culpa em tudo - é preciso que haja, é absolutamente indispensável que haja um sentido para as coisas, ou caímos no abismo. [...] a ideia do acaso é insuportável. [...]"   Cristovão Tezza

PÉROLA POÉTICA NO ROMANCE

Nada do que não foi
poderia ter sido.
Não há outro tempo
sobre esse tempo.

Amanhã e amanhã
é uma estrada curva.
Ninguém abre a porta
ainda em modelo.
Hoje ouvimos os ratos
roendo o outro lado.
Ninguém chegou lá,
porque hoje é aqui.

Mas o sonho existe
o sonho transporta
o sonho desenha
uma escada reta.

Quando cortas o pão
o depois-de-amanhã
não te interessa.
Mesmo que sabes:
todas as forças
estão reunidas
para que o dia amanheça.

CRISTOVÃO TEZZA

VERGONHA

“A vergonha é uma das mais poderosas máquinas de enquadramento social que existem. 
O faro para reconhecer a medida da normalidade, 
em cada gesto cotidiano.” 
Cristovao Tezza 
(Excerto do romance O filho eterno)