quinta-feira, 14 de abril de 2016

MORTAL LOUCURA - GREGÓRIO DE MATOS

Na oração, que desaterra … a terra,
Quer Deus que a quem está o cuidado … dado,
Pregue que a vida é emprestado … estado,
Mistérios mil que desenterra … enterra

Quem não cuida de si, que é terra, … erra,
Que o alto Rei, por afamado … amado,
É quem lhe assiste ao desvelado … lado,
Da morte ao ar não desaferra, … aferra.
Quem do mundo a mortal loucura … cura,
A vontade de Deus sagrada … agrada
Firmar-lhe a vida em atadura … dura.
O voz zelosa, que dobrada … brada,
Já sei que a flor da formosura, … usura,
Será no fim dessa jornada … nada.

Cá está porque esse soneto me arrepia... pia.

domingo, 10 de abril de 2016

OS GRÃOS

Certo dia o professor Benjamin Abdalla disse: "Só é possível escrever sobre aquilo que se conhece." 
Cabe citar Walter Benjamin: "Quem viaja tem muito a contar."
E quem não viaja? Quem nada mais conhece além de sua experiência de vida fincada no mesmo lugar há muito tempo? Essa é a realidade que conhece. 
Nascem Os Grãos.
Não são os grãos cantados por Herbert Vianna.
Não há: "[...] traz dentro de si..."
Trazem sim nos bolsos as notas. Lucro de alguns poucos sobre o trabalho árduo de tantos.
Os grãos. De ouro, dizem. 
Letais os grãos. 
Quantos conhecem?
Para onde vão? Os grãos levados aos milhões para longe de seu lugar de origem.
Os grãos que dizimarão qualquer vida.
Pequenos grãos com força descomunal.
É o Zeppelin Hindenburg fabricado nas férteis terras..
Como tal, surpreenderá o mundo qualquer hora.




VERDADES E MENTIRAS

"[...] Dizem que uma mentira muitas vezes repetida acaba virando verdade. A conversa daquela turma me fazia pensar no inverso: não há verdade que não soe mentirosa quando proferida com ênfase e insistência demasiadas." (p. 89)
(Personagem Anita)
Romance CORDILHEIRA - DANIEL GALERA

MEDOS TANTOS

"Isso é que me enraivece. Queremos transformar o mundo e somos incapazes de transformar a nós próprios. Queremos ser livres, fazer a nossa vontade, e a todo momento arranjamos desculpas para reprimir nossos desejos. E o pior é que nos convencemos com as nossas próprias desculpas, deixamos de ser lúdicos. Só covardia. É medo de nos enfrentarmos, é um medo que nos ficou dos tempos em que temíamos a Deus, ou o pai ou o professor, é sempre o mesmo agente repressivo. Somos uns alienados. O escravo era totalmente alienado. Nós somos piores, porque nos alienamos a nós próprios. Há correntes que já se quebraram mas continuamos a transportá-las conosco, por medo de a deitarmos fora e depois nos sentirmos nus."
Do romance MAYOMBE
PEPETELA

PRAZO LIMITADO

"Nascemos com um prazo limitado para interpretar o mundo." (p.74)
Do livro CORDILHEIRA
DANIEL GALERA