sexta-feira, 28 de junho de 2019

HUMANO NÃO SER

Onde escondi meus segredos?
Em que sítio enterrado está o sossego?
Sem vocábulos que saibam expressar
O que dentro tem andado a espreitar.

Pobres rimas, rimas pobres.

Não é um buraco.
É fato.

Não é um momento.
É constância.

Não posso mais sonhar.
Nem me é permitido ser massa.
Não posso.

A desesperança me acompanha
Todo dia que cruzo com um ser da minha raça.

Comiseração nenhuma.
Só ódio se vislumbra nos olhares

Falas demais,
Ações de menos.

Desilusão ao saber-se humano,
Desses que perderam sua humanidade...
 

INSONE

Cães ladram ao longe,
Anunciando a passagem de outro insone.

Seria outro insone na busca do que perdeu?
Ou já marchando para sua lida diária?
Indagações apenas...

Cá novamente esse corpo desajustado
Com as horas. Noite virou dia.
O desalento para quando há sol,
Torna-se frescor na madrugada.

O silêncio inspira.
Desejo da noite:
Silêncio, silêncio, silêncio de gente.

Cães, grilos, sons quase inaudíveis
São o combustível 
Para uma centelha de palavra não dita.
 

TODOS URUBUS, NÓS...

"[...] AQUELES COM MAIS ESTÓRIAS DIÁRIAS PARA RECONTAR, NOS CONFINAVAM SUAS ESTÓRIAS DE TANTO MUNDO SERTÃO COMO DORES, COMO ESPÚRIAS, COMO DÓS. DIZER DA VERDADE É O CONFINAMENTO, O SACRAMENTO A QUE TODOS ESTAMOS SUJEITOS." Da  personagem TEAR do romance HABEAS ASAS, SERTÃO DE CÉU! p. 133


quinta-feira, 27 de junho de 2019

MADRUGADA

O sol dormiu há horas,
Luta agora contra o breu para voltar.

É "a hora das cinzas", do carvão.
Só negrume, escuridão.
O cri-cri-cri dos grilos solitários.
Que podem ser vários, mas não.

Algo acontece aqui dentro,
Lugar que tem preferido a madrugada.
Silêncio nas ruas.
Descanso nos lares.
Lapidação dos corpos.
Sem oferendas em altares.

Momento dos espíritos inquietos.
Hora tardia das almas cansadas.
Instante incerto das mazelas do dia.
Só a certeza de que tudo dará em nada.

Parte da cidade descansa.
Os garis não.
Ouço-os passarem na correria
De tirar a podridão humana das ruas.

Quiçá conseguissem limpar a putrefação
Cá dentro. Lá dentro.
Levarem todo lixo contido
Nas vias, ruelas, casas, senzalas
Das nossas cabeças.
Do humano que não se cansa
De ser podre.




quarta-feira, 26 de junho de 2019

DISPARIDADES


Você, luz,
Eu, escuridão.

Eu, ceticismo,

Você, religião.



Você, sol,

Eu, lua.

Eu, casa,

Você, rua.



Você, aproximação,

Eu, distanciamento.

Eu, fuga e solidão,

Você, gente aos montes, agrupamento.



Você, riso e simpatia,

Eu, tédio encolerizado.

Eu, silêncio, refúgio em mim,

Você, alegria, sonhos sem fim.



Eu, pura interrogação,

Você não se pergunta.

Eu, existencialismo,

Você, aceitação e comodismo.

Eu, ilha,
Você, continente.
Eu, filha,
Você, mãe, minha nascente. 

Amor sem fim, mãe...