O sol dormiu há horas,
Luta agora contra o breu para voltar.
É "a hora das cinzas", do carvão.
Só negrume, escuridão.
O cri-cri-cri dos grilos solitários.
Que podem ser vários, mas não.
Algo acontece aqui dentro,
Lugar que tem preferido a madrugada.
Silêncio nas ruas.
Descanso nos lares.
Lapidação dos corpos.
Sem oferendas em altares.
Momento dos espíritos inquietos.
Hora tardia das almas cansadas.
Instante incerto das mazelas do dia.
Só a certeza de que tudo dará em nada.
Parte da cidade descansa.
Os garis não.
Ouço-os passarem na correria
De tirar a podridão humana das ruas.
Quiçá conseguissem limpar a putrefação
Cá dentro. Lá dentro.
Levarem todo lixo contido
Nas vias, ruelas, casas, senzalas
Das nossas cabeças.
Do humano que não se cansa
De ser podre.
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