domingo, 25 de outubro de 2020

CURA

Não me curo de mim.

Barbitúricos ou não.

Sem susto ou comoção.

Nada de importante...


Tempos duros,

Chão liso,

Tombos à espreita.


Sons de vazio.

Viver pela metade.

Ausência de planos,

Profundidade? Apenas no vácuo.

Sem vínculos, 

Sem filtros...


Falta-me pertencimento a mim,

Ao mundo, ao lar.

À deriva, em um barco que não é meu.

Marca nenhuma.


Sem respostas,

Pois faltam perguntas.





domingo, 27 de setembro de 2020

MEDOS TODOS

Nossos medos são outros.

Você tem medo da morte, eu, da vida.

Não gosto da palavra sorte, você, do vocábulo azar.


Sonho em ficar livre.

Você deseja proteção.


Ninguém veio para viver o outro.

Tampouco o medo alheio.

Ser livre e só é a única maldição que nos cabe.





sexta-feira, 11 de setembro de 2020

PULSO

 Acordei novamente...

Os sinais de vida pulsam ainda nesse corpo cansado.

Notícias chegam desgraçadamente.

As coisas não andam bem lá fora.

Aqui dentro também não.

Que fazer em um mundo sem boas metamorfoses?

Nada, além de sobreviver 

E suportar essa profunda melancolia...

Seguirei até o fim com saudosismo?

Cruel destino esse,

De sentir saudades do que nunca foi de fato.

Depressão, o que é?Psicólogo Online 10


quarta-feira, 9 de setembro de 2020

CAIXA

Não, eu não caibo mais.

Nas tradicionais reuniões familiares,
No trabalho enfadonho,
Nem nas roupas de tantos "amigos".

Não encontro melodia em canções alheias,
Sequer na minha encontro...

Desânimo de gente.
Sem desejo algum de troca.

Ainda consigo suportar a minha companhia.
Ainda... Sob o argumento de que não posso me livrar de mim.

Ou posso?




DESALENTO

Que fazer com a desesperança...

Aquele tipo de sonho que escorre sorrateiramente entre os dedos?

Como manter a sanidade? Não há.

O que existe é o paradoxo: ser não ser.


Houve dias em que morri.

Nasci novamente na outra manhã,

Feito um zumbi sorumbático

Daqueles que nada pretendem

Além de regressar ao túmulo.


É possível voltar sem dor?

Nada do que nos chega vem sem peso.

O amor até. 


Por isso, desesperança. 

Dessarte, melancolia.

Portanto, vontade de fugir.

Escapar dessa vida fria.

Morte e vida, um contínuo espaço/ tempo


domingo, 16 de agosto de 2020

VOYEUR

 Hoje pela manhã, durante o banho, senti um par de olhos me observando.

Assustei-me de início, mas logo pensei: "Um voyeur...", e continuei sossegada o delicioso afazer. 

Eu percebia os meneios de cabeça daquele curioso.

Lá de cima, seus olhos estavam petrificados em cada movimento meu. 

Minha nudez revelava, com força, sua indiscrição.

Entretanto, pela pequena janela, eu também não o perdia de vista. 

As garras, fixas em uma madeira do outro telhado, frequentemente mudavam de posição.

E assim continuamos nos olhando...

Depois de alguns minutos nesse doce segredo, alimentada sua curiosidade, resolveu partir.

Já havia visto o que queria.

Bateu suas pequenas asas e se foi livremente procurar outros corpos para observar.











terça-feira, 21 de julho de 2020

SANGUE E POESIA

Não posso mudar você,
Ainda que fosse esse
O único meio para o reencontro do fim.

Sequer pude mudar a mim mesma.

Nada que é meu
Envaidece ou encanta mortais.

Há um metal cravado no peito.
Estaca que fere a cada movimento mais brusco.
Sangra. E perco subitamente o líquido.
Escorre, umedecendo a alma.

Trago o gosto amargo
Do fluido espesso avermelhado
Que mancha o corpo todo.

E sorvo, assim, todo dia o fel
Que a vida me propõe.



O que fazer quando se está perdido na vida e não se sabe o próximo ...





sábado, 18 de julho de 2020

O BEIJO DA MORTE

A morte me beijou.

Sôfrega, tocou meus lábios.
Aproveitou-se da minha languidez.

Antes que se afastasse,
Cuspi com repulsa sua saliva putrefata.
Caiu aos seus pés.

Fitou-me lepidamente e saiu 
sem esboçar sentimento.

Não ousará vir me beijar de novo.
Não sem avisar.
Detesto quem me rouba.

Quero estar pronta para recebê-la quando se anunciar...
Caso ainda esteja aqui.



Um belo beijo da morte | Bazinga!


SEM DESTINATÁRIO

Além do sonho que corre em nossas veias,
Bebamos da vida!

Nos corredores de ambas as mentes,
Entre um pensamento e outro,
Quase como uma alma
Ocupando um corpo estranho...
Assim nos habitamos.

Necessário é o agora.
Um amanhã pode não existir,
Caso o meteoro nos atinja novamente.

Eu não quero me despir de você.
Não de novo.

Preciso escrever anônima e secretamente
Algo que não vá dar pouso a outros olhos.
Sem remetente ou destinatário,
Endereço algum o receberá, 
Que não seja a garrafa enterrada 
no fundo do quintal.

Porque necessito falar,
E é sabido que
Tocar com palavras
É o toque mais íntimo do ser.

Entretanto, fogem-me os vocábulos.
O não dito. O reprimido. O indizível.  

Calar dói mais do que falar.
Mas, não raro, é necessário.




Discursos sem ações são palavras ao vento - Igreja Batista Barcelona


domingo, 28 de junho de 2020

FANTASMAS

E quando outras mãos pousarem nas suas,
Olhos estranhos encontrarem os seus,
Pecados nossos serão perdoados
Porque nada fomos, senão fantasmas...




quinta-feira, 12 de março de 2020

A MORTE DO EU LÍRICO

Acho que vou morrer...
E se tal acontecer,
(ao contrário de Nietzsche)
não me importo mais com bispos,
vigários ou pastores de alienadas ovelhas.
Dane-se o pós-morte.
Não poderei mais me defender de monstros!

Que espumem suas babas nojentas
A esbravejar o nome de seu deus parcial.
Diante de minha esquife poderão se juntar,
(e talvez se juntem)
Com suas crenças tantas em um deus
Que serve a cada um a sua vontade.

Nada há a ser temido mais.
Nem honradez, nem orgulho próprio,
Sequer poesia haverá.
Tudo em decomposição no cérebro.

O que terá restado do que fui um dia?
Coisa alguma, senão pedaços de carne putrefata
Que alimentarão vermes,
Esses associados aos outros
Que ainda podem proferir 
seus nefastos sermões.





Resultado de imagem para morte