quinta-feira, 17 de novembro de 2022

LAMENTOS

Dói-me a vida

Como um punhal cravado no ventre.

Chove em mim a vida

Como no deserto a areia quente.

A vida se tranca

Como um parto que não quer ser.

Olha a vida atenta

Como a coruja ao anoitecer.

A vida paira

Sobre as mentiras que nos contamos.

O sonho surge

Tal qual um fantasma que quer voltar ao corpo.

O pesadelo assusta, como a vida efêmera

Que não nos promete alegria nenhuma...



quinta-feira, 6 de outubro de 2022

NARCISO ALIENADO

Crassos erros na caminhada.

Pisa-se a lua,
Mas não se acerta o próprio destino.

Fala-se em deuses, 
Entretanto os desconhece.
Desconhecidos assim, 
como se é a si sob a luz da ignorância.

Copos quebrados
Ilhas desabitadas.

Corpo livre pelas ruas
Sem rumo.
Vida aprisionada em casa
Escravo que não se percebe subjugado.

Mente fechada.

Umbigo meu. Mundo meu.

Não há nada de mais importante na vida.
Só a existência alienada e o eu.






terça-feira, 2 de agosto de 2022

NADA DE NOVO

Novos silêncios...

Nada de novo no reino da comunicação,

que não sejam as palavras não ditas

as mal ditas, as malditas.

Ouçamos, pois, somente o silêncio.

Sem perdas, nem danos...





segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

NÃO PERTENCIMENTO

Não pertenço mais.

Os sapatos que me calçavam
apertam o pé.

Nada do que era meu me consola
Ou me anima.

Preguiça de gente. De novo.
Insanas promessas não feitas,
Desejadas de se fazer.
Consumidas na angústia.
Nem sonhos ao vento...


ACESSO

Enquanto analiso uma senha possível
Volto aos dígitos todos 
Letras, sinais, cifras, arroba...

Que sinal me lanças que não recebo?
Sinal de fogo? Código morse? 
Envie-me uma dica.

Nada do que eu possa acessar em ti
Me poupará de qualquer sofrimento,
Pois as dores todas aqui estão criptografadas.
Acesso impossível.
Serviço inoperante...



quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

DIGITAL

Dirigi-me ao banco para sacar o resto que ainda havia. Estava quase vazio. Uns dois caixas eletrônicos ocupados e eu. Fiquei a matutar que a crise no país estava realmente fora de controle. Difícil não encontrar fila no banco, mas havia tempo eu não o frequentava, pois meus bolsos também reconheceram a crise.

Entrou um homem alto, barba cerrada, vestido em um esporte fino impecável. Nossos olhares se cruzaram, era um jovem rapaz, notei. Mas rapidamente voltei o olhar para o caixa, na esperança de que esse não me trairia e cuspiria algumas notas que me garantissem a noite.

 O homem pôs-se diante do caixa ao lado. Percebi que estava com certa dificuldade de manusear o cartão, mas não ofereci ajuda. Ele que pedisse, se quisesse. Um rapaz tão jovem e desconhecido dessas tecnologias? Estranhei.

Mas creio que logo se entendeu com a máquina, pois quando me virei para sair, deparei-me com a cena mais grotesca já contemplada pelos meus olhos. Estaquei apavorada, sem voz, sem chão, sem rumo, sem ideia do que aquilo significava. Ele segurava um dedo, que não era seu, no leitor digital do caixa. 

Olhou-me indiscretamente. Viu minha estupefação. Mostrou-me o dedo ensanguentado de alguém e, com um risinho de canto, disse-me apenas:

-- Ela não pôde vir...



quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

PRETEXTO

Não posso dar-lhe esperanças,

Portanto, leve de mim a solidão.

Não penso uma vida leve, 

Carregue consigo o que há de bom.


Jamais sonhei além das minhas passadas,

Voe longes distâncias, deseje o cais.

Não transito mais entre humanos,

O silêncio me tragou de maneira voraz.



PERDA


Perdi a poesia...?



Ou ela evadiu-se de mim?