segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

DESAPRENDER

Aprender é uma tarefa
que nunca acaba

Desaprender também
(Geso Silva)

domingo, 11 de janeiro de 2015

SAUDADES AO MAR

Lançastes a garrafa,
mas tua carta nunca chegou.

Saudade imensa do cheiro do mar.
Da maresia que corrói o ferro e os pensamentos nefastos.
Do sargaço trazido pelas ondas, enlaçando as pernas.
Da areia clara que gruda nos pés descalços.

Saudade da paz que a monotonia não rouba.
Da ausência do marasmo.
Do som das ondas surrando as rochas.
Das conchas descansando eternamente pela praia.

Saudade da solidão das jangadas.
Do riso dos pescadores.
Do andar desprendido dos transeuntes
Da vida salgada que a brisa faz doce.

Saudade da garrafa que lançastes e não vi.
 Eu me alimento da esperança dos corais.



sábado, 10 de janeiro de 2015

FIM DE TARDE

O sol se despede do dia dourando os galhos da Castanheira. Majestosa, a árvore portentosa aguarda a lua que prateará suas folhas dando boas-vindas à noite iluminada. O sol se vai, a lua chega e partirá ao amanhecer, mas ela, a árvore com suas raízes fincadas na fecunda terra, permanecerá ali até que algum Mal leve seu sonho de imortalidade: eu, você, o ser humano.
Fim de tarde em Castanheira.

ELA E EU

Há flores de cores concentradas
Ondas queimam rochas com seu sal
Vibrações do sol no pó da estrada
Muita coisa, quase nada
Cataclismas, carnaval

Há muitos planetas habitados
E o vazio da imensidão do céu
Bem e mal e boca e mel
E essa voz que Deus me deu
Mas nada é igual a ela e eu.

Caetano Veloso

LONGOS ARGUMENTOS

Usei os longos argumentos todos.
Andei sobre as águas de Pedro
Voei para o céu de Ícaro
Subi as montanhas de Maomé
Tornei-me o inseto de Kafka.
Porque viver a miséria de ser humano
Não acalenta corações vagabundos.



quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

RESTOS

Nem rangeu a porta
Barulho algum foi ouvido
Ladrão silencioso
Levou sonhos, cores, vida...
Lesados ficamos.

Voltou.

Repentinamente mostrou-se.
Entredentes murmurou algo ininteligível
Estridentes sons estouravam nos tímpanos todos
Ladrão nada cuidadoso
Roubou o vinho, as velas, a mesa...
Impassíveis continuamos.

Fitou-nos profundamente
Virou-se de costas na saída
"Volto para levar o resto."

Nunca mais voltou.
Não havia mais o que levar.
Carregou de nós a sintonia, a dignidade, a fé pouca.

Restos nos tornamos.