terça-feira, 21 de julho de 2020

SANGUE E POESIA

Não posso mudar você,
Ainda que fosse esse
O único meio para o reencontro do fim.

Sequer pude mudar a mim mesma.

Nada que é meu
Envaidece ou encanta mortais.

Há um metal cravado no peito.
Estaca que fere a cada movimento mais brusco.
Sangra. E perco subitamente o líquido.
Escorre, umedecendo a alma.

Trago o gosto amargo
Do fluido espesso avermelhado
Que mancha o corpo todo.

E sorvo, assim, todo dia o fel
Que a vida me propõe.



O que fazer quando se está perdido na vida e não se sabe o próximo ...





sábado, 18 de julho de 2020

O BEIJO DA MORTE

A morte me beijou.

Sôfrega, tocou meus lábios.
Aproveitou-se da minha languidez.

Antes que se afastasse,
Cuspi com repulsa sua saliva putrefata.
Caiu aos seus pés.

Fitou-me lepidamente e saiu 
sem esboçar sentimento.

Não ousará vir me beijar de novo.
Não sem avisar.
Detesto quem me rouba.

Quero estar pronta para recebê-la quando se anunciar...
Caso ainda esteja aqui.



Um belo beijo da morte | Bazinga!


SEM DESTINATÁRIO

Além do sonho que corre em nossas veias,
Bebamos da vida!

Nos corredores de ambas as mentes,
Entre um pensamento e outro,
Quase como uma alma
Ocupando um corpo estranho...
Assim nos habitamos.

Necessário é o agora.
Um amanhã pode não existir,
Caso o meteoro nos atinja novamente.

Eu não quero me despir de você.
Não de novo.

Preciso escrever anônima e secretamente
Algo que não vá dar pouso a outros olhos.
Sem remetente ou destinatário,
Endereço algum o receberá, 
Que não seja a garrafa enterrada 
no fundo do quintal.

Porque necessito falar,
E é sabido que
Tocar com palavras
É o toque mais íntimo do ser.

Entretanto, fogem-me os vocábulos.
O não dito. O reprimido. O indizível.  

Calar dói mais do que falar.
Mas, não raro, é necessário.




Discursos sem ações são palavras ao vento - Igreja Batista Barcelona