terça-feira, 30 de setembro de 2014

GOZO

Desejo louco de escrever.
No entanto, os dedos não se entrelaçam com as palavras.
Falar de romantismo é tão blasé.
Não. Não gosto de romantismo.
Meu desejo palpita com os pés no chão.
Definitivamente não combinamos, portanto.
Calar é a melhor saída
quando tudo o que se tem a dizer é nada.

Mas insisto, repare, a vida é romântica.
Viver é uma espécie de gozo.
Não o gozo acompanhado do gosto ocre de vazio.
Mas aquele tântrico, saboreado nos mínimos movimentos.

Porque a vida é breve, como o gozo,
Contudo, pode ser sentida com delicadeza.
E ter-se a impressão de que é eterna,
Apesar da certeza de sua efemeridade.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

MEDO

"Permitam-me afirmar a minha crença inabalável de que a única coisa que devemos temer é o próprio medo." 
Franklin Delano Roosevelt 
(Discurso de Posse, 1933)


Reitero meu medo de ter medo.
E o tenho sempre...

terça-feira, 23 de setembro de 2014

MENTIRA NÃO PERMITIDA

"Eu posso mentir quanto eu quiser, mas não para mim mesmo. Essa mentira não é permitida [...]." 
Cristovão Tezza
(O FOTÓGRAFO)

SEM REGRESSO

"- Tens medo de fazer amor comigo?
- Tenho.
- Por eu ser preta?
- Não, não é por seres preta que tenho medo.
- Tens medo que eu esteja doente...
- Sei prevenir-me.
- E por que, então?
- Tenho medo de não regressar. Não regressar de ti."
MIA COUTO (VENENOS DE DEUS, REMÉDIOS DO DIABOS)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O IMORTAL

"Ser imortal é coisa comum. Com exceção dos homens, todas as criaturas são imortais, pois ignoram a morte. O que é divino, incompreensível, é saber que se é imortal. [...] Tudo, dentre os mortais, tem o valor do irrecuperável e do perigoso. Dentre os Imortais, de outro lado, todo ato (e todo pensamento) é o eco de outros que o precederam no passado, sem nenhum início visível, ou constante presságio de outros que, no futuro o repetirão a um grau vertiginoso. [...] Nada pode acontecer apenas uma vez, nada é preciosamente precário." Jorge Luis Borges (O IMORTAL)

Quem quer ser imortal? Nada além da morte assusta mais. A vida sim, essa nos mata a cada átimo.

RATOS, HUMANOS, RATOS...

Hoje pela manhã surgiu um pequenino camundongo no meu ambiente de trabalho.
Inofensivo, aparentemente. E desprotegido. Corria para se esconder nos recônditos secretos da grande sala em que eu me encontrava com outros colegas.
Não fosse seu alto e lendário poder de assustar elefantes, poderia ser bonitinho até.
Lendas com elefantes. Com gente não. Alguns possuem fobia. Abrigam-se onde podem, gritam, correm, fazem escândalo.
A mim, coube a mesa. De cima dela, meus olhos acompanhavam o pequeno roedor desesperado em busca de proteção. Eu, idem. Na hora não me ocorreu que ele poderia subir na imensa mesa e se deleitar correndo sobre ela como fazia pelo chão, igualando-se a mim em cima.
Embrenhou-se entre caixas e livros e afins que ocupam espaços na sala. Sabe-se lá onde.
Ninguém mais o encontrou. Estamos à mercê de um bicho que não traz grande malefício ao ser humano. Não sei se voltarei a trabalhar amanhã.
Local de ratos. Meu trabalho. Ratos, humanos, ratos. Humanos, ratos, humanos.
Provavelmente ele tenha olhado para o meu desespero sobre a mesa e sentindo pena, elucubrou:
- Pobre criatura... Vive entre bichos pestilentos muito mais prejudiciais que eu...
ou
- Pobre criatura... Não passa de um rato de esgoto e faz cena quando me vê...
Seja lá o que tenha pensado o pequenino camundongo, fugindo de ser caçado por alguns poucos corajosos na sala, deve ser bem mais feliz do que muita gente que anda às pompas usando sua máscara cotidiana.