sábado, 27 de março de 2010

Crônica sobre a crônica

                    Acabei de ler num site de crônicas, um texto escrito por uma pessoa desconhecida (Wilian  Baron),  intitulado "Por que uma igreja precisa de um jornal".
                     A escrita do rapaz mostra a indignação do mesmo em relação ao número, cada vez maior, de jornais publicados por algumas igrejas evangélicas que se fazem "bem" presentes em nossa sociedade, em que leitores são raridade. Ele acredita que as igrejas o façam para informar seus fiéis sobre os acontecimentos do mundo, a fim de que esses não sintam necessidade de buscar informações em jornais comuns vendidos nas ruas, em bancas. E por ser gratuito, o jornaleco evangélico é melhor aceito nas casas dos membros ou não-membros da igreja. Não lendo jornais, que são veiculados pelo país afora, as igrejas se beneficiam, pois os adeptos dessas religiões não ficarão sabendo das "podriqueiras" jogadas na mídia, vez ou outra, através de outros jornais.
                    Fosse só isso, seria menos prejudicial!
                    Levando-se em conta que o brasileiro é um povo que não lê muito e que prefere gastar com  coisas como celular e bebidas a fazê-lo com livros e jornais, corremos então um sério perigo de que aqueles que não são adeptos da igreja "veiculante" também se acostumem a ler esses jornais alienantes, já que os mesmos chegam às casas e comércios de todos gratuitamente. É uma forma simples de fazer com que leiamos essas informações, sem que procuremos outros meios (pagos) de informação.
                    Reside nesse detalhe o grande mal da publicação desenfreada do jornal do bem, que está a serviço de determinada igreja comercial, portanto a serviço do capital privado.

sábado, 20 de março de 2010

Pais e filhos

               Hoje presenciei tristemente o desespero de um pai sem esperanças diante da escola em que trabalho.
               Onze da noite. Homem sobre uma bicicleta. Olhar atento aos transeuntes. Caça ao seu rebento. Nenhum sucesso.
               O filho, mais um envolvido em crimes de assalto a mão armada, um menor que não tem condições de se desvencilhar do mundo dos entorpecentes por si só.
               Passou despercebido, esse pai, por todos os que saíam numa pressa incontida para buscar cada um seu lar ou um encontro furtivo pós-aula, mas eu o vi. Fiquei parada à espreita, sem ser percebida, imaginando a dor desse pai. O medo. Talvez do próprio filho.
              O menor infrator não estava por ali, então o homem saiu pelas ruas a pedalar sobre sua desgraçada miséria de ser pai de alguém que oferece perigo à sociedade. 
              Uma criatura que tenta salvar o mundo da ameaça que seu filho representa, merece a credibilidade dos reles mortais que o rodeiam, ainda que sejam tão perigosos em outros aspectos, quanto sua criança marginal.
            O filho bandido. Só mais um. Pai desgostoso. Apenas outro infeliz dentre tantos progenitores que cospem seus filhos ao mundo e não conseguem segurar mais a saliva amarga  que os mesmos são capazes de destilar.
                     Feliz Abraão, que teve seu filho de volta, das mãos de Deus. Hoje nós já não os temos mais.

sexta-feira, 19 de março de 2010

O GRANDE MAL DO CROMOSSOMO XX

                                                               Simone de Beauvoir
                                                                 Clarice Lispector
                Desde antes da bíblia, sabemos que a mulher é vista na sociedade como uma criatura inferior, porém, no Gênesis isso fica muito mais acentuado, já que esse ser traz toda a desgraça ao Éden. E pela bíblia adentro, presenciamos passagens denegrindo a imagem dessa besta fera que nasceu assim porque seu cromossomo é xx, e não xy (ainda bem). Pelas inúmeras escritas bíblicas, conhecemos mulheres que sempre traíram seus machos (Eva, Dalila, Rebeca...), que mesmo com seus falos demonstrando a imensa capacidade xy, não conseguiram se desvencilhar de tamanhas armadilhas criadas pelas mulheres. Os homens bons, retos e puros de coração, servos fiéis de Deus se deixaram capturar por um inferior avatar.
                Não bastasse a bíblia, apareceram grandes pensadores, filósofos, gente de "marca" para difamar o gênero feminino. Budha, Aristóteles, São Tomás de Aquino, John Donne e tantos outros homens de respeito entraram nessa lista de disseminadores da ideia de que a mulher é inferior.
                Mas nada menos do que o tempo fez-nos enxergar o grande segredo por trás dessas inverdades ditas através dos tempos. A mulher é uma criatura tão especialmente perigosa em sua notável sensibilidade, que causa medo ao sexo oposto no quesito: Substituição. Ela é insubstituível para a evolução da humanidade.
                Medo é o que move o homem, cujo caminho, por onde quer que vá, cruza com o de uma criatura cromossomo xx. Esse é o grande mal.
               


Avatar palavra que descende do Sânscrito: Avatara, significa Aquele que descende de Deus, ou simplesmente encarnação. Qualquer espírito que ocupe um corpo de carne, representando assim uma manifestação Divina na Terra.

sexta-feira, 12 de março de 2010

"A mão que afaga é a mesma que apedreja" (Augusto dos Anjos)

            Havia um sol ainda alto quando aquele homem afobado passou pela minha amiga e dizendo: "DESCULPA, MOÇA!", roubou da mão dela a carteira.
            Ao meu lado, percebi que algo estranho havia acontecido, e ela, em estado de choque, numa passividade anormal de quem não consegue reagir a nada, balbuciou: "Ele roubou minha carteira."
            Não me contendo, saí em disparada atrás do homem que havia tirado da minha amiga nada mais que um objeto pequeno cheio de documentos pessoais e cartões, mas que pertencia a ela.
            Preocupado com a gritaria que fiz pela rua, jogou o motivo da perseguição a ele na rua e fugiu, mas o seguimos e vimos que adentrou uma igreja que estava aberta. Entrei e quando o encarei, sozinhos nós dois naquele salão imenso, o homem virou-se para mim e disse que tinha entrado ali para pedir perdão porque o "inimigo" (vulgo diabo) o tinha tentado, por isso agiu assim. Minha tentação foi maior ainda de não ficar calada, então disse a ele que deveria ter vergonha de pôr a culpa no diabo por uma maldade que é tão própria do ser humano e que aguardasse até que a polícia chegasse, mas ele fugiu e eu o segui até que foi preso.
             Pelas desculpas pedidas no momento do roubo e por ter entrado na igreja para ser mais um que se esconde atrás das barbas de Deus, enfureceu-me com tamanha força, que não consegui parar e deixá-lo impune.
            Então pede-se desculpas agora para se fazer o mal? Que educado... - "Me desculpa aí, mas vou tirar à força o que lhe pertence..." O ladrão afagou quando desculpou-se, mas apedrejou quando roubou.
            E o falso arrependimento veio com a velocidade de um tornado, que o fez esconder-se na primeira igreja aberta que encontrou pelas ruas. Deus afagou, acolhendo-o num templo, mas apedrejou também, já que não o livrou de seu triste destino: a cadeia.
           Eu não fui tão boa a ponto de afagá-lo, mas o apedrejei. 
           Acostumo-me então à lama que me espera, por não ter sido condolente e deixado fugir um pobre desgraçado sob efeito do álcool que só queria um pouco de dinheiro.
           E eu, após apedrejá-lo, sinto-me pequena demais por ainda não ter aprendido a afagar.
          

terça-feira, 9 de março de 2010

Palavras...

"Tão pobres somos que as mesmas palavras nos servem para exprimir a mentira e a verdade"
 Florbela Espanca


Queria escrever algo sobre um assunto 
que ninguém tivesse escrito,
Porém me falta o motivo,
Desaparecem as palavras,
Inspiração alguma há,
Tão pobre sou com esse amontoado de letras...




segunda-feira, 1 de março de 2010

Ensaio sobre a cegueira - parte II (A realidade)

               Todas as vezes que se dá uma catástrofe da proporção que ocorreu no Chile no último fim de semana, ou maior ainda, como a do terremoto no Haiti, me sinto mais insegura quanto ao monstro que deixamos vir à tona tantos seres humanos, vítimas desses cataclismos. 
               Vem a minha mente, com precisão, a história (fantástica) do livro ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, em que José Saramago descreve com tanta sensilbilidade essa monstruosidade que liberamos em meio ao caos.
               Entre escombros, mortos, feridos, gritos, choros e gemidos, vemos as cenas que mais mostram o verdadeiro lado do ser desesperado. A luta pela sobrevivência nos cega, muitas vezes, a ponto de perdermos a noção da realidade, da honestidade, faz-nos repentinamente insensíveis diante do outro.
               Através do noticiário televisivo pudemos ver os saques, não incomuns em situações como essas. Pessoas desesperadas buscando o mínimo para viver daqui a pouco: água, comida, objetos de extrema necessidade. Compreensível.
               Mas nunca soube que objetos de extrema necessidade englobassem utensílios como máquinas de  lavar roupa, joias ou dinheiro (effectivo). 
               Impõe-se o toque de recolher para evitar roubos, mas em alguns lugares, como a presença de policiamento é nula, os moradores passam a noite aterrorizados ouvindo tiros e ameaças de vândalos e saqueadores. Querem comida? Não. Ter é o que querem. Causar pavor.
               Resta-nos saber se os bandidos dessa história real terão o mesmo fim que os bandidos cegos, confinados no sanatório (do livro de Saramago) tiveram. Assim talvez não causem mais esse terror aos que estão lutando ainda pela vida. 
               Mas então outros surgirão... Com os mesmos instintos, com a mesma índole. É a natureza humana que nos fere.


           

2012 - A profecia


            Considero brilhante e de grande privilégio para nós, mortais, a estada (um dia) dos maias aqui nesse planeta. Acredito na existência deles, mas não em suas profecias.
             Creio sim na falta de responsabilidade do ser humano com a forma como vem tratando a natureza, bem como ao seu próximo. Ao meu próximo...
             Essa maldade é que é a verdadeira profecia de extermínio da humanidade. Nós estamos nos matando todos os dias um pouco.
             E os maias talvez estivessem certos...