segunda-feira, 1 de março de 2010

Ensaio sobre a cegueira - parte II (A realidade)

               Todas as vezes que se dá uma catástrofe da proporção que ocorreu no Chile no último fim de semana, ou maior ainda, como a do terremoto no Haiti, me sinto mais insegura quanto ao monstro que deixamos vir à tona tantos seres humanos, vítimas desses cataclismos. 
               Vem a minha mente, com precisão, a história (fantástica) do livro ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, em que José Saramago descreve com tanta sensilbilidade essa monstruosidade que liberamos em meio ao caos.
               Entre escombros, mortos, feridos, gritos, choros e gemidos, vemos as cenas que mais mostram o verdadeiro lado do ser desesperado. A luta pela sobrevivência nos cega, muitas vezes, a ponto de perdermos a noção da realidade, da honestidade, faz-nos repentinamente insensíveis diante do outro.
               Através do noticiário televisivo pudemos ver os saques, não incomuns em situações como essas. Pessoas desesperadas buscando o mínimo para viver daqui a pouco: água, comida, objetos de extrema necessidade. Compreensível.
               Mas nunca soube que objetos de extrema necessidade englobassem utensílios como máquinas de  lavar roupa, joias ou dinheiro (effectivo). 
               Impõe-se o toque de recolher para evitar roubos, mas em alguns lugares, como a presença de policiamento é nula, os moradores passam a noite aterrorizados ouvindo tiros e ameaças de vândalos e saqueadores. Querem comida? Não. Ter é o que querem. Causar pavor.
               Resta-nos saber se os bandidos dessa história real terão o mesmo fim que os bandidos cegos, confinados no sanatório (do livro de Saramago) tiveram. Assim talvez não causem mais esse terror aos que estão lutando ainda pela vida. 
               Mas então outros surgirão... Com os mesmos instintos, com a mesma índole. É a natureza humana que nos fere.


           

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