Hoje presenciei tristemente o desespero de um pai sem esperanças diante da escola em que trabalho.
Onze da noite. Homem sobre uma bicicleta. Olhar atento aos transeuntes. Caça ao seu rebento. Nenhum sucesso.
O filho, mais um envolvido em crimes de assalto a mão armada, um menor que não tem condições de se desvencilhar do mundo dos entorpecentes por si só.
Passou despercebido, esse pai, por todos os que saíam numa pressa incontida para buscar cada um seu lar ou um encontro furtivo pós-aula, mas eu o vi. Fiquei parada à espreita, sem ser percebida, imaginando a dor desse pai. O medo. Talvez do próprio filho.
O menor infrator não estava por ali, então o homem saiu pelas ruas a pedalar sobre sua desgraçada miséria de ser pai de alguém que oferece perigo à sociedade.
Uma criatura que tenta salvar o mundo da ameaça que seu filho representa, merece a credibilidade dos reles mortais que o rodeiam, ainda que sejam tão perigosos em outros aspectos, quanto sua criança marginal.
O filho bandido. Só mais um. Pai desgostoso. Apenas outro infeliz dentre tantos progenitores que cospem seus filhos ao mundo e não conseguem segurar mais a saliva amarga que os mesmos são capazes de destilar.
Feliz Abraão, que teve seu filho de volta, das mãos de Deus. Hoje nós já não os temos mais.
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