quarta-feira, 6 de agosto de 2014

RAKUSHISHA

"Deve haver como me perder, de algum modo. Deve haver como me perder para encontrar aquele lugar no mundo que nunca antes foi pisado antes, um território realmente virgem. Deve haver um modo, quem sabe, de partir em viagem e não regressar mais. Reduzir-se à mochila que vai às costas e a umas poucas mudas de roupa. Reduzir-se ou agigantar-se, a uma ausência de casa própria e cidadania, [...]. Levantar os pés para caminhar, estudar a bússola e o mapa, mas randomizar todos os gestos. Traçar uma reta, menor caminho entre dois pontos, e picotá-la com a tesoura, apagar trechos com a borracha, dissimular outros com o esfuminho, despistá-la em curvas. De tal modo a esquecer que um dia chegou a ser uma reta, dotada de ponto final. De objetivo. Desobjetivar-se. Esse, o território realmente virgem - o único. Assumir como um sentido a falta de sentido da vida. Em todos os sentidos. . ADRIANA LISBOA (RAKUSHISHA)

Nenhum comentário:

Postar um comentário