"Clarice chega ao mar. O mar, a mais incompreensível das existências não humanas, diante da mais incompreensível de todas as mulheres. Um encontro de dois mistérios. A única coisa que podem fazer é se olhar. Clarice sente a imensidão do mar diante de sua pequenez. O mar não é solitário, porque é habitado. Clarice é solitária, porque dentro dela há apenas ela mesma. Não há mais ninguém."
"Há mulheres que são solitárias porque buscam e nunca encontram dentro de si a si mesmas. Encontram apenas estranhos que as levam para ainda mais longe de si."
Ana Miranda (Livro CLARICE)
Daí essa natureza solitária feito um cacto no deserto...
"[...]Eu estava como o prisioneiro que encontra no carcereiro o único ser com quem trocar as humanidades. E pergunto: por que nos ensinaram essa merda de sermos humanos? Seria melhor sermos bichos, tudo instinto. Podermos violar, morder, matar. Sem culpa, sem juízo, sem perdão. A desgraça é esta: só uns poucos aprenderam a lição da humanidade."(Personagem ANA DEUSQUEIRA do livro O ÚLTIMO VOO DO FLAMINGO) MIA COUTO
É a essência humana o que nos aproxima do bicho.
O bicho humano...
E não há mais cura para quem ainda não aprendeu a lição.
“Às vezes é no desencontro
que as almas se revelam
quando se ferem se lanham
com palavras lágrimas e insultos
e só lhes resta o assombro
Bem que gostaríamos
fosse ameno doce ou luminoso
o encontro mas é no desencontro
que às vezes as almas se revelam
quando ásperas ou agressivas
se tocam no mais fundo
e perplexas se contemplam como se contempla
o intransponível abismo”
Affonso Romano de Sant'anna
E assim seguimos nesse caminho de desencontros e descobertas...
Quando já não havia outra tinta no mundo o poeta usou do seu próprio sangue.
Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo.
Assim, nasceu a voz, o rio em si mesmo ancorado.
Como o sangue: sem voz nem nascente.