segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A CASA DOS CONTOS

               Éramos três aspirantes a aventureiras. Resolvemos um dia nos embrenhar pelas estradas mineiras a fim de conhecermos cidades históricas e ou famosas por outro motivo. O roteiro estava na cabeça: Ouro Preto, Mariana, Sabará, Congonhas (sugeridas pelas duas) e São Tomé das Letras (indicação minha). Três professoras, as primeiras cidades eram importantes para as três por isso. Uma de nós era historiadora. Prato cheio para suas aulas. Fiquei mais animada quando uma delas (a professora de Língua Portuguesa) disse que em Outro Preto havia a Casa dos Contos. Sem sombra de dúvidas, essa viagem seria especial.
                Saímos em uma manhã de janeiro (não me recordo o ano) cheias de planos. O destino era longe, portanto pernoitamos duas vezes antes de chegar a Ouro Preto. “Eu só dirijo de dia”, disse logo. Todas concordamos que era mais seguro ir sem pressa.
                As estradas de Minas são tortuosas. Lindas! Montanhas pelos caminhos. Muitas curvas. Antes de sairmos do nosso estado, amedrontou-nos uma pesada chuva na Serra da Petrovina. Entretanto, não conseguiu diminuir nosso anseio. Já em Minas, presenciamos um acidente horrendo entre um ônibus e uma carreta que se encontraram em uma curva fechada. Isso também não nos amoleceu. Queríamos chegar às cidades, à cultura mineira, à história, aos contos, causos e às Letras de São Tomé. Fomos provando das comidas mineiras nos restaurantes que parávamos e da hospitalidade invejável daquele povo.
                No terceiro dia, finalmente chegamos à tarde em Ouro Preto. Andamos um pouco. Procuramos uma pousada perto dos museus do centro, jantamos e nos recolhemos sonhando com o outro dia.
                Acordadas e bem dispostas, vimos o sol raiar na cidade histórica. Saímos bem cedo para o tour pelos museus, igrejas e ruas centenárias por onde escravos pisaram aos montes para erguerem as construções portuguesas que saltavam à vista. Caminhando por ali, pensávamos a Inconfidência Mineira, Tiradentes, o poeta inconfidente Cláudio Manoel da Costa, e o mais ilustre morador dessas paragens, o Aleijadinho. Tudo foi devidamente visto, perguntado, investigado pelas três curiosas. Mas faltava ainda um lugar de suma importância para as duas professoras de Português que compunham o grupo: a Casa dos Contos.
                Perguntamos ali pelo centro, alguns não souberam explicar direito, outros nos mostraram alguns caminhos diferentes. Era tarde, resolvemos tomar um rumo e caminhar até lá. Cansadas, estávamos o dia todo em visitações, caminhávamos na ânsia de chegarmos logo e nos refastelarmos lendo alguns contos na Casa.

                Uma pessoa, pelo caminho, disse-nos que provavelmente estaria fechado. Duvidamos, e com o sol gritando sobre nossas cabeças vencemos as ladeiras até chegarmos à frente da Casa. Realmente estava fechada para público. Mas pedimos gentilmente que nos deixassem entrar. Vimos, então, um tanto de dinheiro antigo espalhado em exposição. Estranhamos. Olhamo-nos. Santa ignorância, devemos ter pensado as três. Começamos a rir com um certo desgosto. Havíamos sim encontrado a Casa dos Contos. Dos contos de réis. 

2 comentários:

  1. Não pude conter o riso. 😂😂😂
    Acho que janeiro de 2011.

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    1. Foi quixotesca essa viagem, Joyce. kkkkkkkk
      Mas valeu muito a pena. Pensar que num mundo tão cheio de informação, as ignorantes nem pesquisaram para saber sobre a casa de contos, me dói. Mas valeu.rsss. Obrigada por rememorar a data. Não me lembrava mesmo. Preciso marcar em algum lugar os anos das minhas viagens. A memória está beeeeeem gasta. kkkkk Bjus, Quixotesca.

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