terça-feira, 22 de julho de 2014

GAZA NÃO É FEITA DE HAMAS


Muitos judeus foram assistir, satisfeitos, à condenação de Cristo há dois mil anos.
Milhares de judeus sucumbiram no holocausto aterrorizante de quarenta e cinco.
Alguns judeus hoje juntam-se, no alto de um morro,
para apreciarem os bombardeios em Gaza nos fins de tarde.
De geração em geração, judeus repetem o jugo de perseguirem
e serem perseguidos.
Aprende-se a intolerância com os pais.
A intolerância é herança. Triste herança!

"[...] se os verbetes do meu avô podem ser resumidos na frase como o mundo deveria ser, que pressupõe uma ideia oposta do mundo como de fato é, eu duvido que meu pai não soubesse disso antes da leitura do texto: que para o meu avô esse mundo real significava Auschwitz, e se Auschwitz é a maior tragédia do século XX, o que pressupõe a maior tragédia de todos os séculos, já que o século XX é considerado o mais trágico de todos os séculos, porque nunca antes tanta gente foi bombardeada, fuzilada, enforcada, empalada, afogada, picada, eletrocutada antes de ser queimada ou enterrada viva, dois milhões no Camboja, vinte milhões na União Soviética, setenta milhões na China, centenas de milhões somando Angola, Argélia, Armênia, Bósnia, Bulgária, Chile, Congo, Coreia, Cuba, Egito, El Salvador, Espanha, Etiópia, Filipinas, Haiti, Honduras, Hungria, Índia, Indonésia, Irã, Iraque, Líbano, Líbia, México, Mianmar, Palestina, Paquistão, Polônia, Portugal, Romênia, Ruanda, Serra Leoa, Somália, Sri Lanka, Sudão, Tchecoslováquia, Tchetchênia, Tibete, Turquia e Vietnã, cadáveres que se acumulam, uma pilha até o céu, a história geral do mundo que é tão somente um acúmulo de massacres que estão por trás de qualquer discurso, qualquer gesto, qualquer memória, e se Auschwitz é a tragédia que concentra em sua natureza todas essas outras tragédias também não deixa de ser uma prova da inviabilidade da experiência humana em todos os tempos e lugares - diante da qual não há nada o que fazer, o que pensar, nenhum desvio possível do caminho que meu avô seguiu naqueles anos, o mesmo período em que meu pai nasceu e cresceu e jamais poderia ter mudado essa certeza." (DIÁRIO DA QUEDA - MICHEL LAUB - p. 133/134)



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