Não posso mudar você,
Ainda que fosse esse
O único meio para o reencontro do fim.
Sequer pude mudar a mim mesma.
Nada que é meu
Envaidece ou encanta mortais.
Há um metal cravado no peito.
Estaca que fere a cada movimento mais brusco.
Sangra. E perco subitamente o líquido.
Escorre, umedecendo a alma.
Trago o gosto amargo
Do fluido espesso avermelhado
Que mancha o corpo todo.
E sorvo, assim, todo dia o fel
Que a vida me propõe.
A morte me beijou.
Sôfrega, tocou meus lábios.
Aproveitou-se da minha languidez.
Antes que se afastasse,
Cuspi com repulsa sua saliva putrefata.
Caiu aos seus pés.
Fitou-me lepidamente e saiu
sem esboçar sentimento.
Não ousará vir me beijar de novo.
Não sem avisar.
Detesto quem me rouba.
Quero estar pronta para recebê-la quando se anunciar...
Caso ainda esteja aqui.
Além do sonho que corre em nossas veias,
Bebamos da vida!
Nos corredores de ambas as mentes,
Entre um pensamento e outro,
Quase como uma alma
Ocupando um corpo estranho...
Assim nos habitamos.
Necessário é o agora.
Um amanhã pode não existir,
Caso o meteoro nos atinja novamente.
Eu não quero me despir de você.
Não de novo.
Preciso escrever anônima e secretamente
Algo que não vá dar pouso a outros olhos.
Sem remetente ou destinatário,
Endereço algum o receberá,
Que não seja a garrafa enterrada
no fundo do quintal.
Porque necessito falar,
E é sabido que
Tocar com palavras
É o toque mais íntimo do ser.
Entretanto, fogem-me os vocábulos.
O não dito. O reprimido. O indizível.
Calar dói mais do que falar.
Mas, não raro, é necessário.