A noite enfiava os dedos pela
tarde e começava a colorir o horizonte. Hora em que já se está cansado do dia
todo de mazelas humanas e resolve se esconder por um tempo suficiente para
voltar refeito e acariciado pela manhã.
Como
todos os dias, eu e meu cão caminhávamos distraidamente, não sem manter o passo
firme e cadenciado sugerido pelo médico.
Gostávamos,
eu e ele, de caminhar pelos cantos mais recônditos da cidade. Assim como o sol,
nos escondíamos de gente, pois passara o dia todo no insípido contato humano.
Viajávamos cada qual na companhia distante do outro. Ele, preocupado com os
cheiros tantos, os troncos a receberam sua demarcação de território, como se
fosse possível ser dono de todos os sítios por onde se passa. Eu, em
caminhar cada vez mais rápido para fazer valer o que a mídia vinha trazendo
sobre os poderes benéficos de sair da vida sedentária na qual eu e mais da
metade de brasileiros vivemos.
Rua
a atravessar. Freio de carro marcando com dor o asfalto. Grito... Grito? Meu. Um apenas. E
meu cão cheirando o sangue que tingia o asfalto em todo vermelho de seu poder.
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