sábado, 7 de dezembro de 2013

Pequeno conto do cão só

               A noite enfiava os dedos pela tarde e começava a colorir o horizonte. Hora em que já se está cansado do dia todo de mazelas humanas e resolve se esconder por um tempo suficiente para voltar refeito e acariciado pela manhã.
            Como todos os dias, eu e meu cão caminhávamos distraidamente, não sem manter o passo firme e cadenciado sugerido pelo médico.
            Gostávamos, eu e ele, de caminhar pelos cantos mais recônditos da cidade. Assim como o sol, nos escondíamos de gente, pois passara o dia todo no insípido contato humano. Viajávamos cada qual na companhia distante do outro. Ele, preocupado com os cheiros tantos, os troncos a receberam sua demarcação de território, como se fosse possível ser dono de todos os sítios por onde se passa. Eu, em caminhar cada vez mais rápido para fazer valer o que a mídia vinha trazendo sobre os poderes benéficos de sair da vida sedentária na qual eu e mais da metade de brasileiros vivemos.
             Rua a atravessar. Freio de carro marcando com dor o asfalto. Grito... Grito? Meu. Um apenas. E meu cão cheirando o sangue que tingia o asfalto em todo vermelho de seu poder. 


            

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