sábado, 29 de outubro de 2016

SEDUÇÃO

A poesia me pega com sua roda dentada, 
me força a escutar imóvel 
o seu discurso esdrúxulo. 
Me abraça detrás do muro, levanta 
a saia pra eu ver, amorosa e doida. 
Acontece a má coisa, eu lhe digo, 
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar. 
Ela responde passando 
língua quente em meu pescoço, 
fala pau pra me acalmar, 
fala pedra, geometria, 
se descuida e fica meiga, 
aproveito pra me safar. 
Eu corro ela corre mais, 
Eu grito ela grita mais, 
sete demônios mais forte. 
Me pega a ponta do pé 
e vem até a cabeça, 
fazendo sulcos profundos. 
É de ferro a roda dentada dela. 
                         ADÉLIA PRADO

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