sábado, 5 de setembro de 2009

ARTE VIVA


         Estacou diante do quadro “O GRITO”, de Munch, porque sentia-se diante de um espelho.
         Entrou naquele museu como quem entra em si mesmo. Caminhou sem rumo pelos longos corredores com o olhar perdido, fitando as paredes sem nada ver, pois seus pensamentos se distanciavam dali. Queria não mais pensar. Desejo profundo de matar todos os seus sentidos. Mas diante d’O GRITO parou, ereto. E então num golpe rápido, com a navalha que carregava escondida no bolso do casaco, jogou-se sobre o quadro golpeando-o incessantemente.
         As pessoas se afastaram, assustadas, porém sem perderem de vista aquela cena brutal e insana. Ninguém ousava se aproximar.
         Terminado o serviço, pedaços da tela jogados ao chão, ele, o homem, com uma indescritível satisfação estampada no rosto, sentou-se escorado na parede e levou à boca pedaços da pintura destruída, saboreando-os como quem participa d’a última ceia. E diante da multidão perplexa e dos guardas embasbacados, desferiu um golpe certeiro em sua jugular. Jorrava do pescoço aquele líquido quente e vermelho a metros do seu corpo, colorindo todo o cenário antes tão acinzentado.

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