sexta-feira, 25 de abril de 2014

Estrangeiras

Que prazer pode haver em um reencontro improvável com alguém que se cruzou apenas uma única vez, numa cidade imensa e vazia de humanidades? Provavelmente porque neste único encontro ocorrido, tenha sido gentil, prestado um favor a quem sentia-se só na multidão. O de ajudar-me a me encontrar, se é que há possibilidade de que algum ser humano consiga a peripécia de encontrar-se. “Por favor, este ônibus vai para o meu destino?” A pergunta foi feita a um rapaz que não sabia a resposta. Ela prontificou-se: “Vai sim, irei para lá também. Vamos.” Leve sotaque. Sorriu um sorriso estrangeiro, sem parcimônia. Quando chegamos ao nosso local de parada, apresentou-se a mim: “Sou colombiana, me chamo Adriana, ficarei apenas seis meses aqui, estudando.” Caminhamos conversando até o local preterido. Despedimo-nos desejando-nos boa sorte. Precisaríamos mesmo. Duas estrangeiras numa terra de todos e de ninguém. Hoje nos revimos. Sabíamos ainda nossos nomes. Trocamos meia dúzia de palavras cochichadas entre as estantes carregadas de conhecimento. Externo a nós que percorremos o árduo caminho de conhecer e conhecermo-nos a nós mesmas. Quando passou por mim novamente para sair, veio até minha mesa, sorriu, agora não mais um sorriso tão estrangeiro, mas de quem já quase encontrou seu ninho, como eu. Falou um “tchau, tchau” balbuciado de quem talvez quisesse falar mais um pouco. Foi-se. Ela partiu com sua menos estrangeiridade e deixou-me cá a elucubrar sobre o fato de que quando pensamos ter encontrado nosso lugar, este lugar não é nosso. Não existe um canto de nosso neste vasto mundo. Em todo sítio nos sentimos estrangeiros, até mesmo dentro de nosso interior povoado de clandestinidade...

Nenhum comentário:

Postar um comentário