Que prazer pode haver em um
reencontro improvável com alguém que se cruzou apenas uma única vez, numa cidade imensa e vazia de humanidades?
Provavelmente porque neste único encontro ocorrido, tenha sido gentil, prestado
um favor a quem sentia-se só na multidão. O de ajudar-me a me encontrar, se é
que há possibilidade de que algum ser humano consiga a peripécia de
encontrar-se. “Por favor, este ônibus vai para o meu destino?” A pergunta foi
feita a um rapaz que não sabia a resposta. Ela prontificou-se: “Vai sim, irei
para lá também. Vamos.” Leve sotaque. Sorriu um sorriso estrangeiro, sem
parcimônia. Quando chegamos ao nosso local de parada, apresentou-se a mim: “Sou colombiana,
me chamo Adriana, ficarei apenas seis meses aqui, estudando.” Caminhamos conversando
até o local preterido. Despedimo-nos desejando-nos boa sorte. Precisaríamos
mesmo. Duas estrangeiras numa terra de todos e de ninguém. Hoje nos revimos.
Sabíamos ainda nossos nomes. Trocamos meia dúzia de palavras cochichadas entre as estantes
carregadas de conhecimento. Externo a nós que percorremos o árduo caminho de
conhecer e conhecermo-nos a nós mesmas. Quando passou por mim novamente para
sair, veio até minha mesa, sorriu, agora não mais um sorriso tão estrangeiro,
mas de quem já quase encontrou seu ninho, como eu. Falou um “tchau, tchau”
balbuciado de quem talvez quisesse falar mais um pouco. Foi-se. Ela partiu com
sua menos estrangeiridade e deixou-me cá a elucubrar sobre o fato de que quando
pensamos ter encontrado nosso lugar, este lugar não é nosso. Não existe um
canto de nosso neste vasto mundo. Em todo sítio nos sentimos estrangeiros, até mesmo dentro de nosso interior povoado de clandestinidade...
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