terça-feira, 29 de abril de 2014

QUIXOTE

Hoje ele está sentado à porta da biblioteca. Pose de Drummond no banco em Copacabana. Entretanto não tem o mar às costas. Tem quimeras. Está todo dia por aqui. Conversa com centenas de seres invisíveis, e quando se dirige a mim, pergunto-me se também estou. Fala descompassadamente e, em geral, não entendo nada. Uma voz forte de quem já discursou deveras. Outros caminhantes passam a seu lado. Ninguém o vê. Não recebe respostas, sequer olhares. Ares de intelectual maltrapilho, carrega sempre uma bolsa com a escrita orgulhosa: Doutorado. Mas hoje não. Apareceu com dois livros nas mãos apenas. Sem bolsa.  Nada de relevância. Conversando e fumando, como de hábito, traz um olhar perdido de quem já viveu demais, conheceu demais e que ainda assim não obtém respostas de nada. Certamente está cercado de armadilhas da própria mente. Dom Quixote pós-moderno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário