No ambiente que estou confortavelmente instalada neste exato momento,
há pelo menos oitenta lugares para as pessoas estudarem. Poucas pessoas às
vezes. Dez. Vinte e cinco. Não sei quantos. Tantos... Tantos estudantes. Algumas
vezes me deparo com todos os assentos ocupados. O silêncio impera ainda assim. Entram,
debruçam-se sobre os livros, leem muito e saem. Não se vão da mesma forma que
adentraram este lugar, impossível sair daqui do mesmo modo que chegamos. Há
tantos mundos nas prateleiras. É possível viajarmos pelos ares, oceanos,
estradas sem fim. Hoje viajei para a Espanha, e montada no cavalo Rocinante,
cavalguei longas paisagens verdejantes.
Depois de algumas horas envolvida com meus afazeres, levanto a cabeça
e passo rapidamente os olhos a minha volta. Lotação esgotada. São tantos...
Volto às minhas obrigações. Algo me inquieta deveras. Levanto a cabeça e olho
de novo. Tento não suscitar suspeitas sobre a minha curiosidade. Mas preciso
ter certeza. Por cima dos óculos, disfarçadamente, olho mais uma vez. Com o
cuidado de observar bem os que estão às minhas costas também. Não pode ser possível!
Não soube disfarçar tão bem. O rapaz que se senta à mesa atrás de mim cruza o
olhar com o meu. Longos cabelos "rastafari". Ele é o único negro na sala. Numa sala de oitenta pessoas
graduandas e pós-graduandas ele é o único negro... Clichê demais falar sobre
isso, portanto paro por aqui.
Não!!! Ele não é o único. Vejo lá no canto da sala um funcionário da
biblioteca que silenciosamente monta uma estante portátil. Ele também é negro.
Vejo-o todo dia com seu riso gentil. Ufa! Não tem só um na sala.
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