terça-feira, 6 de maio de 2014

A COR DO ENSINO SUPERIOR

No ambiente que estou confortavelmente instalada neste exato momento, há pelo menos oitenta lugares para as pessoas estudarem. Poucas pessoas às vezes. Dez. Vinte e cinco. Não sei quantos. Tantos... Tantos estudantes. Algumas vezes me deparo com todos os assentos ocupados. O silêncio impera ainda assim. Entram, debruçam-se sobre os livros, leem muito e saem. Não se vão da mesma forma que adentraram este lugar, impossível sair daqui do mesmo modo que chegamos. Há tantos mundos nas prateleiras. É possível viajarmos pelos ares, oceanos, estradas sem fim. Hoje viajei para a Espanha, e montada no cavalo Rocinante, cavalguei longas paisagens verdejantes.  
Depois de algumas horas envolvida com meus afazeres, levanto a cabeça e passo rapidamente os olhos a minha volta. Lotação esgotada. São tantos... Volto às minhas obrigações. Algo me inquieta deveras. Levanto a cabeça e olho de novo. Tento não suscitar suspeitas sobre a minha curiosidade. Mas preciso ter certeza. Por cima dos óculos, disfarçadamente, olho mais uma vez. Com o cuidado de observar bem os que estão às minhas costas também. Não pode ser possível! Não soube disfarçar tão bem. O rapaz que se senta à mesa atrás de mim cruza o olhar com o meu. Longos cabelos "rastafari". Ele é o único negro na sala. Numa sala de oitenta pessoas graduandas e pós-graduandas ele é o único negro... Clichê demais falar sobre isso, portanto paro por aqui.


Não!!! Ele não é o único. Vejo lá no canto da sala um funcionário da biblioteca que silenciosamente monta uma estante portátil. Ele também é negro. Vejo-o todo dia com seu riso gentil. Ufa! Não tem só um na sala.

Nenhum comentário:

Postar um comentário