Hoje ele me beijou. Foi rápido.
Encontrou-me quando eu voltava para minha mesa. Sorriu, abraçou-me e me deu um
beijo como quem oscula sua fada madrinha depois de receber um agrado. Afagos à parte, só seu riso branco, quando o vi, já havia me
queimado as entranhas antes mesmo de ele se aproximar. Será que ele me lê? Balbuciou ao meu ouvido um
“oi, tudo bem?” apressado de quem pergunta, sabendo que não terá a resposta
verdadeira. “Sim” num cochicho. Devolvi o sorriso. Ele precisa correr de si e
de mim. Ambos sabemos que nossas verdades não virão à boca facilmente porque
não existem verdades. Restam-nos os lábios roçando nossas faces em desalento,
num mundo cujas penas para marginais como nós escoam, direcionando-nos ao
esgoto.
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