Sabe-se lá por que, mas ela gostava de plantas. Obcecada,
na verdade. Fumava pedra. Para uns, a crackeira. Para a família, a garotinha
que estava perdida num labirinto sem saída. Para a mãe, sofrimento de tamanho
imensurável. Mas ela amava plantas. Mesmo nos momentos de profunda alucinação,
era o que enxergava. Nas casas por onde passava. No cemitério, reduto para seu
delito. Nas árvores, naturalmente dependuradas. Plantas. Com flores ou sem elas.
Plantas. Que significado poderia haver para uma adicta que não conseguia mais
encontrar-se a si mesma nesse mundo cruel, roubar plantas? Ela roubava. Roubava
porque amava. Porque o que lhe restara de humanidade se fazia presente quando
encontrava plantas. Porque têm a cor da esperança. Talvez se agarrasse às plantas como quem se agarra a um
pedaço do navio que naufragara, para se salvar. Humanidades.
Com o transporte que lhe restara para percorrer os
longínquos caminhos em busca da pedra, uma bicicleta, saía desvairada pelas
ruas até saciar a fome do vício. E sempre observava as plantas por onde
passava.
Deu-se que certa vez passando diante de uma casa,
depois de ter usado, deparou-se com uma área ornamentada por quatro xaxins de
samambaias de metro. Ficou encantada. Parou. Admirou longamente. Com o resto de
inocência que lhe restava, resolveu pedir à dona, uma muda da planta. “Que
maravilha”, pensava. “Como são enormes!!! Quero uma dessas...”. Bateu à porta.
Saiu a mulher com cara de poucos amigos e depois de ouvir o pedido, respondeu: “Você
acha que eu as teria se desse mudas para todo mundo que me pede?”. A menina
ficou decepcionada, mas fingiu ter aceitado a recusa. Indignada por ter o
pedido negado, montou sua bicicleta e foi-se. Nunca mais saiu da sua cabeça
aquelas samambaias de metro. “Eu quero ter.” Entretanto o “nunca mais” foi pouco
tempo. Alguns dias depois, por acaso, sem muito acaso, passou novamente diante
da casa. Seus olhos petrificaram diante da beleza das samambaias de novo. Eram
tão longas. Tão belas. Pareciam cachoeiras verdes a despencarem dos xaxins. Samambaias
de metro. Cachoeiras. Vida. A vida que a menina não tinha mais. Tão verde. Tão
viva! Ela queria. Observou por alguns segundos. Nenhum movimento. Abriu o
portão da casa sorrateiramente, como quem vai roubar um tesouro. Em silêncio adentrou
a área, apossou-se de um dos xaxins, depositou-o no cano da bicicleta e saiu em
disparada, levando o tesouro outrora inacessível. Sorria e pedalava. A cabeça
cheia de pedra e o coração aquecido pelo ouro verde que levava. O vento batia
em seu rosto e soprava delícias nos ouvidos: “Agora sim você tem uma samambaia
de metro. Já que não lhe deu uma muda, leva-a inteira.” Entretanto, na corrida
alucinada que ia, com suas pedaladas rápidas, temerosa de ser pega em delito,
não percebeu o infortúnio. Chegou em sua casa, louca e feliz com a samambaia no
cano da bicicleta. Missão cumprida! Entrou, fechou violentamente o portão,
segurando a bicicleta, sempre olhando para os lados com medo de ter sido
seguida. Estava alucinada! Louca de pedra.
Quando foi tirar o xaxim do seu meio de transporte,
notou que não havia metro. Nem um. Nem dois. Nem nada. A samambaia havia se
enroscado nos raios da roda, ornamentando a bicicleta. Pôs o xaxim diante dos
olhos, lançou um olhar para a roda traseira, sem entender direito o ocorrido. Estava
louca. Louca de pedra. Nem percebeu quando a vida foi se enrolando nos raios.
De novo perdera. O verde do xaxim não mais existia. Estava morto na roda.
Cabisbaixa, entrou com a raiz plantada nas mãos e começou a regar. Haveria de
crescer de novo... Brotou, mas não cresceu. Nada de metro. Só alguns
centímetros. “Será que foi castigo?”, pensava a menina. Ela ainda conseguia
pensar em castigos. Não foi. A samambaia não cresceu, mas a menina sim. Voltou
a viver, não sem dor. Renasceu. Nada mais de loucura de pedra. Nada mais de
roubos de plantas. Curou-se das drogas, mas não das plantas. Rega a samambaia
sempre, mas esta não cresce. O fruto do roubo está lá na área todos os dias
olhando para ela, e diz quando a vê: “Você é muito mais forte que eu.”
Baseado em fatos.
Bj enorme em GRACE ASSUNÇÃO EVANGELISTA.
Pura inspiração.
Bj enorme em GRACE ASSUNÇÃO EVANGELISTA.
Pura inspiração.
Lindo.
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