quinta-feira, 5 de junho de 2014

O MONSTRO MORA DENTRO

Zigmunt Bauman afirma em seu livro O mal estar da pós-modernidade (1998), que "o homem pós-moderno trocou suas possibilidades de felicidade por um quinhão de segurança", por isso construiu muralhas para se abrigar. Ter segurança é prioridade para o sujeito hoje, que vive às turras com o receio do outro. Medo do que vive à margem. Pavor de ser invadido por aqueles que nada têm. Vivemos uma civilização que escolheu limitar sua liberdade em nome da segurança. É cada vez mais crescente o número de condomínios fechados, cheios de grades, câmeras, sensores, cercas elétricas para deixar bem longe qualquer ameaça de fora.
O problema dessa prisão toda em que se colocou, não é quando alguns ladrões mais espertos fazem arrastões absurdos nos ambientes reclusos que surgiram para proteger. O grande percalço hoje são os monstros que estão lá dentro. Alguns que pagam por essa segurança toda, para terem a impressão de proteção, e tornam-se eles mesmos a grande ameaça. Dentro do lugar que escolhera viver sem liberdade, esse sujeito pratica crime que causaria inveja a qualquer maníaco. 
Não conhecemos nossos vizinhos. Nada sabemos do que se passa na cabeça alheia, nunca. Não conhecemos sequer aqueles com os quais convivemos. O zelador Jezi Lopes de Souza não imaginava que naquela fatídica tarde se depararia com o monstro que lhe tiraria brutalmente a vida, o publicitário Eduardo Tadeu Pinto Martins. Sem intenção, este publicitário mais uma vez alerta a sociedade sobre o perigo de ser humano: encontrar outro ser humano disposto a tomar atitudes de monstro. Não há segurança. Nem confiança. Nem paz. Enquanto houver o ser humano, lugar nenhum será seguro. Ele consegue tirar a poesia do mundo em milésimos de segundos. 
Em breve não se ouvirá mais a mídia nervosa falando sobre o assunto. Como aconteceu com tantos outros casos, alguns solucionados em meio a estranhas provas. Não mais ouviremos falar. E não passará de mais um crime bárbaro cometido por um homem que não pertence à baixa classe tão perigosa. Neste caso, o inimigo mora dentro dos portões do condomínio. Não precisa ser ao lado. Nem do lado de fora. Aqui, o monstro mora dentro. Do condomínio e do homem. Aprendeu bem: diante dos desafetos, morte a eles.

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