Vale do Anhangabaú. "Carmen" de Bizet em cartaz. A grande ópera. Por que não esperar as 18 h para ver? Seria perfeito se eu estivesse acordada para a vida neste momento, e raciocinado com clareza. Excitação. Primeira vez que meus olhos se engraçariam
com o Theatro Municipal de São Paulo. Da estação ao grande prédio, cheiro de
urina nas ruas. As narinas ardem. Reclamo. Minha amiga retribui: “Sinta o
cheiro dos livros de Terron”. Sorri. Quando visualizamos o prédio, ainda
queimavam as minhas narinas. Minha amiga: “Foi, Não foi. Foi, Não foi.”. Eu
estava num torpor estranho a mim mesma por não sentir a euforia devida, como
sempre ocorre quando me deparo com esses monumentos.
Mendigos. Crackeiros. Policias que observam de longe os que vivem à
margem e se tornaram uma ameaça à sórdida sociedade - da qual faço parte -, que
os repele. Decoram a paisagem ao redor do prédio. Triste paisagem!
Bela construção. Semana de 22. Arte Moderna. Viajei para os momentos
que explano em sala de aula para meus alunos sobre a história da Semana de 22.
Villa-Lobos de casaca, com um sapato e um chinelo. Apupos... “Enfunando os sapos/ Saem da penumbra.”. Curta viagem. Curta
passagem por lá. Vi, sem ver. Pisei as escadarias, adentrei a recepção. “Podemos
voltar.” – eu já tinha visto tudo o que não queria. Na volta, reclamei
novamente do cheiro forte de urina na rua. “Sinta o cheiro dos livros de Terron”,
me repetiu Raquel. “Essas pequenas poças que você vê na calçada provavelmente
sejam de urina.” Tive vontade de chorar.
O Vale do Anhangabaú tem cheiro de urina. As narrativas de Terron têm
o cheiro putrefato do ser humano. A expectativa que alimentara e toda a beleza
que vira fora apagada pela paisagem em volta do Theatro. Não estou na semana de
Arte Moderna em 1922. “Acorda”, minha amiga diz bem próxima a mim. “Bem-vinda
ao mundo pós-moderno. E ele exala mau cheiro em muitos cantos.”. Minha amiga é
poesia. Bruta poesia. http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/teatromunicipal/ingressos/
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