Nunca imaginei que um coração vagabundo pudesse ser
tão útil.
No primeiro dia de aula ela participou muito:
“Ãããn... Maish, eu penso que a literatura ...
Ãããhh... Pode ter suash nuancesh...”
Legítimo sotaque português. Pensei: “Essa menina é
de Portugal.”
O professor perguntou sua origem: “Sou da Polônia.”
Ontem me disse que cursa mestrado em Berlim. Fala
fluentemente alemão.
Está estudando uma disciplina no Brasil, o que lhe
deu tempo suficiente para começar a namorar um carioca. “Já eshtou tentando
falar o portuguêsh daqui.” E com um riso maroto disse: “Tá ligada?”. Rimos. Espero que não empobreça seu vocabulário.
Contou que aprendeu alemão por que se apaixonou por
um gajo de lá.
Depois se encantou com um árabe, enveredou-se pela
língua dele.
“Queria aprender hebraico. Judeu, adoro judeu.”
Agora, com o carioca, está se fazendo com o
português brasileiro.
“Mas que coração vagabundo bom esse seu, Joana. O
único conhecido por mim que faz crescer tanto. Geralmente são cegos e param na
inutilidade da paixão momentânea.” Rimos de novo.
Ela também fala inglês. E sabe-se lá quantas
línguas mais aprenderá até que encontre um estrangeiro que a segure por mais
tempo. Tomara que não. Assim conhecerá tantos idiomas que mal caberão em seu
mundo. Uma estrangeira dela mesma. Apaixonada por línguas todas que não a sua
de origem.
Viaje, Joana. Conheça mesmo. O mundo é grande
demais para uma língua só e tantas paixões. Espero que não pare tão cedo de
buscar uma identidade fixa neste planeta, pois não há. "O mundo é grande demais para que fiquemos cá com problemas tão pequenos."
Ficarei saudosa dosh tantosh essesh...
Adorei o texto!!!! Esse coração vagabundo que sabe o que quer...
ResponderExcluirBeijinhos Roze