sábado, 14 de junho de 2014

CORAÇÃO VAGABUNDO

Nunca imaginei que um coração vagabundo pudesse ser tão útil.
No primeiro dia de aula ela participou muito:
“Ãããn... Maish, eu penso que a literatura ... Ãããhh... Pode ter suash nuancesh...”
Legítimo sotaque português. Pensei: “Essa menina é de Portugal.”
O professor perguntou sua origem: “Sou da Polônia.”
Ontem me disse que cursa mestrado em Berlim. Fala fluentemente alemão.
Está estudando uma disciplina no Brasil, o que lhe deu tempo suficiente para começar a namorar um carioca. “Já eshtou tentando falar o portuguêsh daqui.” E com um riso maroto disse: “Tá ligada?”. Rimos. Espero que não empobreça seu vocabulário.
Contou que aprendeu alemão por que se apaixonou por um gajo de lá.
Depois se encantou com um árabe, enveredou-se pela língua dele.
“Queria aprender hebraico. Judeu, adoro judeu.”
Agora, com o carioca, está se fazendo com o português brasileiro.
“Mas que coração vagabundo bom esse seu, Joana. O único conhecido por mim que faz crescer tanto. Geralmente são cegos e param na inutilidade da paixão momentânea.” Rimos de novo.
Ela também fala inglês. E sabe-se lá quantas línguas mais aprenderá até que encontre um estrangeiro que a segure por mais tempo. Tomara que não. Assim conhecerá tantos idiomas que mal caberão em seu mundo. Uma estrangeira dela mesma. Apaixonada por línguas todas que não a sua de origem.
Viaje, Joana. Conheça mesmo. O mundo é grande demais para uma língua só e tantas paixões. Espero que não pare tão cedo de buscar uma identidade fixa neste planeta, pois não há. "O mundo é grande demais para que fiquemos cá com problemas tão pequenos."

Ficarei saudosa dosh tantosh essesh...

Um comentário:

  1. Adorei o texto!!!! Esse coração vagabundo que sabe o que quer...

    Beijinhos Roze

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